The Head Hunter e a arte de fazer fantasia com pouco

Imagem de destaque do filme The Head Hunter, mostrando um guerreiro viking com armadura, com uma espada nas costas e usando um elmo que cobre parte de boa parte do seu rosto

Filmes de fantasia com baixo orçamento geralmente são vistos como aquele gênero "tão ruim que é bom", uma mistura de cenas gravadas no meio do mato, com atores que não sabem muito bem o que estão fazendo ali (ou que precisam pagar os boletos e aceitam qualquer coisa), efeitos especiais pouco convincentes e uma vontade de ser épico com apenas uma caixa de biribinhas, umas espadas meio tortas e figurinos que fariam um cosplayer iniciante pensar "tá meio estranho isso aí".

Esses filmes B têm o seu charme principalmente por mostrar que alguém ali pensou grande demais, mas a falta de grana podou a brincadeira, mesmo que isso significasse entregar um negócio com uma qualidade muito abaixo do esperado.

Imagine um Senhor dos Anéis com o orçamento que cobriria duas caixas de maria mole e uma passagem de ônibus. Peter Jackson ainda poderia fazer miséria com isso, mas nem todo mundo tem esse talento.

Eu digo isso, mas hoje em dia, existem meios mais baratos de se conseguir algo que entregue uma visão grandiosa em filmes, com ferramentas de pós-produção e meios de fazer com que um filme que custou pouco possa parecer um grande produção de Hollywood.

E é aí que depois dessa introdução que pode parecer grande demais, eu venho falar de The Head Hunter.

Troco de pinga de Hollywood

Em 2018, o diretor Jordan Downey mostrou ao mundo uma ideia a qual ele escreveu e produziu que misturava fantasia e horror chamado The Head. Estrelado pelo ator norueguês Christopher Rygh, o filme independente foi exibido no Sitges Film Festival, onde todo mundo achou o nome uma merda e fez com que ele passasse a se chamar The Head Hunter.

Parece uma mudança besta, mas chama mais atenção e ainda por cima abriu as portas para o filme ganhar prêmios em festivais de cinema de gênero, principalmente por conta de sua fotografia e clima.

O filme se passa durante a Idade das Trevas, em um mundo de fantasia onde monstros e demônios são reais. O personagem principal é um caçador de recompensas que caça esses bichos que tentam atacar os vilarejos de um reinado.

As coisas ganham novos contornos quando uma missão surge para caçar o mesmo monstro que matou a sua filha no passado, gerando consequências graves pro herói e para o mundo.

Filmado em Portugal, Noruega e na Califórnia, The Head Hunter poderia ser apenas mais um filme de fantasia, mas algo nele chama atenção: o que ele consegue entregar com um orçamento de US$ 30 mil. Não escrevi errado, não são milhões. É 30 mil mesmo.

Conhecendo suas limitações

The Head Hunter sabe exatamente o tipo de filme que quer ser e como alcançar isso com o que tem. O diretor usou o seu orçamento para colocar na tela um visual sujo, mas ainda bem trabalhado, com uma boa atuação de Rygh no papel principal, que ajuda a criar um clima de tensão e perigo.

Muitas vezes, por não quererem abrir mão da cena épica que imaginaram, diretores de filmes de fantasia acabam extrapolando seus gastos e não alcançando os efeitos necessários pra entregar algo que preste.

Guerreiro medieval ou dono de hamburgueria?

Em alguns casos, isso ganha um charme (os filmes tão ruins que ficam bons lá do começo), mas é possível perceber o passo maior que a perna dessa galera. The Head Hunter, em boa parte, consegue evitar isso.

O diretor sabe que ele não tem dinheiro pra criar um monstro absurdo que vai estrelar uma luta épica contra o herói. Mas ele sabe como usar o cenário e alguns truques pra fazer você entender que essa luta de fato está acontecendo.

Como vários outros filmes independentes, The Head Hunter acaba se mostrando mais uma lição sobre como desenvolver suas ideias mesmo com poucos recursos.

O diretor poderia ter escrito um roteiro maluco com a mesma história que é contada no filme, mas que sem um orçamento certo, não teria 1/10 do impacto que a produção real tem.

Eu acho que tem uma armadura dessa no Elden Ring

Quando você assiste ao filme, é possível perceber que ele teve um orçamento baixo. Nem tudo é 100% nele, pois dá pra pegar um outro momento de "fizeram na boa vontade isso aí". Só que quando você assiste ao filme sabendo que ele custou US$ 30 mil, a sensação que fica é "COMO?".

Ao final dos seus parcos 72 minutos de duração, The Head Hunter mostra que cada vez mais a história de que o cinema é só feito de adaptações e sequências não se mantém quando você começa a olhar um pouco além. Volta e meia surgem umas pérolas como essa.